Aproveitando o facto de antes de 2ª feira o stress de estudo ser só relativo, retirei um bocado de tempo ao meu estudo e decidi de vez escrever este post já pendente desde o ano passado.
No início das férias de Natal, depois de arrumar a mochila num canto do quarto, iniciei uma maratona cinematográfica: South Park - Longer & Uncut, The Proposal, Memphis Belle, Good Morning Vietnam, Full Metal Jacket, Taking Woodstock, Cidade de Deus.
Em geral, todos bons filmes. Uns mais parvos, outros em que se aprende qualquer coisa, um de bonecada estúpida mas engraçada, uns mais espectaculares, outros com um argumento "fácil".
Mas de todos, um deles destacou-se. Into The Wild (O Lado Selvagem), de Sean Penn (lançado em 2007) é baseado no livro homónimo de Jon Krakauer (que li após ver o filme) e retrata a história verídica de um jovem que, no ano de 1990, após acabar o seu curso na Universidade de Emory (citando a Wikipedia, sobre a Universidade de Emory: "(...) a U.S. News & World Report classificou o programa de graduação (undergraduate/licenciatura) em 17º entre universidades americanas, enquanto que a classificação das faculdades de direito, medicina e de economia da mesma universidade figuram entre as 25 melhores do país. Foi também classificada no Top 10 dos melhores locais para trabalhar.") com excelentes resultados, para além de pertencer à equipa de corta-mato da universidade, parte em direcção ao Alasca, deixando para trás toda a sua vida. No caminho (que não foi directo) com destino à "última fronteira" vai conhecendo várias pessoas e passando por diversas situações que vão moldando o seu ser e dando sentido à sua busca pela vastidão da natureza.
Jon Krakauer, colaborador da revista Outside escreveu um artigo sobre este caso em Janeiro de 1993 (o artigo, que penso ser o original, pode ser encontrado aqui) e, como estava limitado a um artigo de revista decidiu publicar este livro.
Resumir o filme é uma tarefa árdua. Não sei se por ter ficado demasiado "viciado" (viciado no sentido de querer saber mais) na história, se por adquirir uma grande admiração pelo feito de Chris, é-me complicado fazer um resumo de toda a história.
Resumir o livro, árduo é. Apesar de não ter conseguido a versão original (entrou directamente para 1º da wishlist) é bem mais fértil em detalhes, ainda que, de certo modo, possa ser considerado como um relato fidedigno do êxodo de McCandless.
Inventar uma nova vida não é tarefa fácil. Se em 1990 não seria, hoje muito menos, acredito eu. Estamos tão dependentes dos confortos de uma casa, dos amigos, do dia-a-dia, da rotina, da TV, da Internet, da música, do computador, etc etc.
O problema pode estar nas motivações. Mas não nas motivações para ter vontade de, nas motivações do fazer. Falta de motivação é o que não falta a um qualquer indivíduo que tem vontade de se alhear das suas obrigações perante tudo.
Agora, partir à descoberta do desconhecido, praticamente sem dinheiro, com o que se leva às costas, viajando à boleia, suplantando as dificuldades causadas pelo clima, pela própria viagem...
"So many people live within unhappy circumstances and yet will not take the initiative to change their situation because they are conditioned to a life of security, conformity, and conservatism, all of which may appear to give one peace of mind, but in reality nothing is more dangerous to the adventurous spirit within a man than a secure future. The very basic core of a man's living spirit is his passion for adventure. The joy of life comes from our encounters with new experiences, and hence there is no greater joy than to have an endlessly changing horizon, for each day to have a new and different sun."
Chris McCandless
Longe de considerar Chris um herói, considero-o um exemplo de aventureiro. Um modelo de emancipação e revolta face ao comum e rotineiro, às superfulidades da civilização, da sociedade.
Todos gostamos das nossas viagens, e é aqui que, para mim Chris é rei. Na sua vontade de viajar, de conhecer o desconhecido, de viver e sobreviver sozinho. Apesar de ser ajudado, nomeadamente refugiando-se na boa vontade das pessoas que lhe vão dando boleia, para comer, Chris é, a meu ver (ver de outro jovem de 18 anos), um jovem que procura a sua independência, servindo-se da irreverência e inocência da juventude para desculpar as suas ideias fixas.
No entanto, e pondo de parte todas as vicicitudes da viagem, Chris é acima de tudo alguém extremamente culto. Acredito que fosse alguém extremamente cativante (salvo erro, o livro descreve-o exactamente como tal), capaz de contagiar as pessoas com quem se dava com a sua vontade imensa de procurar o seu verdadeiro eu.
Esquecendo as desventuras (devaneios, bitaites) poéticas de Fernando Pessoa (que para mim não eram mais que resultado de umas boas garrafas de whiskey), que tão alegremente somos obrigados a ler no 12º ano (sem dúvida uma cativação para a leitura dos nossos programas escolares), que agora de repende foram puxados aqui para imagem central das minhas ideias, depois da frase onde é dito que se procura o verdadeiro eu, e deixando-me de fait-divers, Chris é influenciado por obras de Jack London, Tolstoi e Thoreau. Baseando-me no livro, Krakauer fala de todos estes senhores como ideologistas, teóricos, que muito escreveram mas que na prática pouco se podia levar à letra, pois eles próprios muitas vezes não praticavam aquilo que diziam. Mas onde é que eu quero chegar? Chris McCandless foi vítima de uma verdadeira junção de factores que levaram ao fatal destino. Acreditar demasiado, deixar-se levar demasiado pelo que lê, acreditar cegamente que se consegue sobreviver no interior do nada com o pouco que se leva às costas.
Etc etc etc... Podiam-se aqui discutir n situações pela qual Chris passou e que, de certa forma, me marcaram.
Opá, e não esquecer a banda sonora! Eddie Vedder compôs uma obra prima para acompanhar este filme!
Concluindo, fica a recomendação para que não só vejam o filme como para que leiam esta obra, façam-no de espírito aberto. Penso ser importante recolher todas as opiniões que possam ser encontradas (mais comuns ao longo do livro) e formular a nossa própria. Acima de tudo é importante, ainda que só por um bocadinho, envolvermo-nos com a aventura, deixarmo-nos perder na imensidão do vazio que Chris encontrou, e pensar: "Será que não é assim que sou feliz?" (será que assim também não sou feliz?)
"Two years he walks the earth. No phone, no pool, no pets, no cigarettes. Ultimate freedom. An extremist. An aesthetic voyager whose home is the road. Escaped from Atlanta. Though he shall not return, 'cause the West is the best'. And now after two rambling years comes the final and greatest adventure. The climactic battle to kill the false being within and victoriously conclude the spiritual pilgrimage. Ten days and nights of freight trains and hitchhiking bring him to the Great White North. No longer to be poisoned by civilization he flees, and walks alone upon the land to become lost, in the wild."
Alexander Supertramp - May 1992
E agora, também eu vou partir into the wild, no meio universitário conhecido como época de exames.
P.S.: Não consegui transmitir por palavras uma boa parte daquilo em que o filme e o livro me fizeram pensar e idealizar. Cada frase de Chris pode ter n interpretações, cada transcricão de livros pode ser entendida de maneira diferente.. O melhor é mesmo comprar e pensar.
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